top of page
Foto_de_Divulgação_-_OFICINA.jpg

INTRODUÇÃO

A linha de pesquisa de Ruana Negri tem como foco a natureza, a ciência e o imaginário, saberes que juntos podem mostrar caminhos místicos. São estranhamentos, mistérios, descobertas, detalhes e afetos que nos interpelam em seus trabalhos, sua poética origina uma espécie de Gabinete de Curiosidades. Os meios pelos quais sua arte se realiza envolve principalmente o desenho, os processos de reprodução, a fotografia, a apropriação e o deslocamento de objetos e elementos do cotidiano. A força de suas obras vem de encontros vitais, ao combinar elementos de sua coleção particular, imagens e informações tiradas de um universo científico junto de fenômenos oníricos e situações biográficas.

SOBRE A POÉTICA

A Natureza e Seus Elementos

Percebe-se em meu trabalho, vigorosamente a presença da Natureza. A influência das texturas, cores, formas e personalidades, encontradas no ambiente puro em que é visto o selvagem ou ambiente manipulado, onde a natureza permanece domesticada em meio as cidades. Influências ocasionadas pelo contato direto ou por meio de informações adquiridas em livros sobre diversos ramos da Biologia. O interesse pelo Universo Natural enquanto prática artística – de vida, é saudosista. No Final de 2009, o encontro de um coral na “Prainha” – em Peruíbe / Litoral de São Paulo, foi um momento disparador de mudanças de olhar e pensamento para com o Mar. A inquietude quanto os mistérios de suas profundezas começaram a desencadear os primeiros trabalhos fluidos, carregados de memórias salgadas e que desaguaram em um mar de possibilidades, em meio a seres e mundos oníricos, envolvidos pela temática das conchas, quanto sua estrutura física, sua função e seu caráter simbólico. A água do mar foi se conectando com a terra, e em meio a caminhada me deparei também com os elementos ar e fogo. Folhas, flores, raízes secas, o mundo das aves, sementes aladas, insetos voadores, seus fragmentos de asas e o fogo, encontram-se presentes, envolvidos na forma de ver e perceber a vida. Surgem novas percepções e relações quanto a construção da imagem (ou objeto) e sua matéria, o apuramento da intuição e o desenvolvimento do olhar para com o mundo e sua presença no momento do fazer artístico, junto da mão, como ferramenta de tradução das vontades, desejos e quase segredos, que encontram-se nos pensamentos. Assim, parte da natureza se mostra e me envolve, água, terra, ar e fogo, vistos como: unidades, conjuntos, mesclas, surgimentos e retornos, seguem de forma intuitiva e emaranhada em minha poética.

 

A Pseudociência e o Caráter Colecionista

O brincar de ser pseudocientista se torna recorrente, a despreocupação quanto aos métodos científicos serem comprobatórios, abrem maiores possibilidades para os descobrimentos. Me inspira a forma de como eram unificadas as áreas das ciências e as artes, o misticismo e o popular, cuja percepção dos indivíduos são regidas a priori pelos sentidos, não somente pela razão. Problematizo a ciência com a verdade onírica. Formulo questões sobre a natureza, encontro e colho elementos / objetos, crio algumas evidências, penso em hipóteses, faço testes sem a pretensão de criar uma verdade absoluta, apenas possibilidades de reflexões e o despertar de olhares, registro e compartilho alguns resultados. Se tornam concretas escolhas inventivas, une-se imaginação e a razão, os sujeitos e os objetos, campos que foram separados ao longo dos anos no universo cultural da sociedade e cotidiano da população contemporânea. Com o passar do tempo, fui adquirindo uma personalidade colecionista, utilizo a apropriação e o deslocamento de elementos da natureza e objetos do cotidiano, com a finalidade de reinventar, pensar em possibilidades novas de significados, a partir de coisas existentes. Objetos exóticos, comuns, novos e antigos são encontrados e armazenados em meu atelier, assim como “presentes” de familiares e amigos também correspondem a um número de objetos que integram minha coleção particular, envolvida por: Elementos Naturais, Objetos do Cotidiano, Artesanatos e Instrumentos Musicais.

 

A Miniatura e o Fantástico

As miniaturas são as que a encantam, devaneios dos que nasceram utopistas. Onde a observação transpassa a verdadeira forma de olhar, em que existe o espaço e o tempo de digerir a surpresa do “descobrir”. Busco desengavetar minimundos, esses que encontram-se escondidos “no tempo da cidade”, formas oníricas que permanecem nos entres do capital buscam o encontro de olhares atentos, firmes a combater a agressividade no mundo e o tempo corrente. Visa também inverter a perspectiva de grandezas, e ativar valores mais profundos. Criam-se Espaços-refúgios, para imersão em questões e situações que nos dão folego, presentes no mundo contemporâneo e que tanto nos desgasta. Quando há dúvidas, o mistério e os vazios, a fantasia se põe a brotar, ela pode tornar-se real, no íntimo daquele que crê. Procura ilustrar a existência de aspectos imaginativos irracionais como parte de nossa realidade. Cria imagens e objetos, mas também pode ser uma criadora de mundos e narrativas. Sobre diversos seres, compõe-se também um bestiário, ligado ao mundo em que vivemos, com a finalidade de questioná-lo ou afirma-lo, incorporando também aspectos sociais e políticos.

Envolvimentos e seu gabinete de curiosidades

Minha poética é envolvida por seres oníricos, esquemas, coletas e coleções, registros, (meta)paisagens, memórias, afetos, delicadezas e histórias. Encontra-se a vida, a morte, o particular, o secreto, o sombrio e os detalhes. Os variados suportes e técnicas que utilizo, como: o desenho, os processos de reprodução, a apropriação e deslocamento de objetos e elementos da natureza, a fotografia, a costura, entre outros. Quando observados de forma panorâmica, podem ser reconhecidos em minha poética multi-artística, como um elo. Em meio a diversas possibilidades de diálogos, surge uma espécie de Gabinete de Curiosidades. Composto por uma coleção de múltiplos objetos / fragmentos achados (pelo Brasil e outros países) e criações subjetivas e provenientes de suas explorações, expedições e acasos.

Ruana Negri

13.JPG
16A.JPG
14A.JPG
3a.jpg
17A.JPG
DSCN3046.JPG
1a.JPG
bottom of page